quinta-feira, 1 de agosto de 2013

Súplica

Este segundo poema que apresento veio na esteira de "Vazio". Na verdade, sua concepção iniciou-se antes deste, mas demorou muito, mais de um mês, para que irrompesse da minha mente. Os primeiros cinco versos surgiram primeiro, durante uma noite comum, na qual o sono demorou para manifestar-se. Saí da cama e peguei papel e caneta sofregamente. Parei no quinto verso, reservei toda a estrofe e esperei o momento até que o restante do poema surgisse. E eu não fazia ideia de como se desenvolveriam os versos seguintes. A estrofe criada dava muitas possibilidades, o que tornava ainda mais nebulosa a sua continuidade. Ideias vinham e iam. Até que um dia brotou este que foi o melhor -- o que mais gosto -- poema que já escrevi.

Súplica

Rompe-se dos céus
O soar das estridentes trombetas dos anjos
É o sinal do findar de um império
E despertar dos martírios humanos
O inferno, enfim, vigorará!

Vês, majestade, enganaste a ti próprio
Teus enormes pilares
Que antes sustentavam soberba riqueza
Hoje denunciam rachaduras
Em meio a tão frágil barro com que ergueste

Sintas, supremo rei,
O amargo sabor da traição
Daqueles que devem a ti a existência
E intimamente espalharam teu segredo
Compartilharam da tua fraqueza

Criaste-os como matéria
Domesticaste-os segundo teus ingênuos conceitos
Deste-lhes a carcaça,
O incestuoso corpo
Mas esqueceste de lhes colocar uma alma

Tu não criaste o homem
Criaste o diabo
A tua imagem e semelhança
E vendo quão perfeita era tua criatura,
Descansaste

Estando ilhado de mentiras
Por que, então, não me transformaste em anjo?
Por que rejeitaste tão pura servidão?
Que infortúnio te obrigas a renunciar socorro?
Escolha uma face e responda!

Deus do inferno,
Por que não carregas minha alma contigo
Não me tornas o que carnalmente nunca fui
Um ser feliz,
Para servir-te até a tua morte?

Teu cajado não mais suporta
O peso da tua lamúria
Já não podes acudir a quem te ama
Sentes-te inseguro, tens medo
Quem és, afinal?

Respondo eu a mim mesmo:
- Não és nada!

Finalizado em 27/10/1997, também aos 17 aninhos.

Um comentário: