Último dia do mês de fevereiro deste ano não bissexto. Desejávamos ter sido quatorze do mesmo mês, mas o carnaval e o recesso judiciário não permitiram. Fazia muito sol, como de costume em Salvador. Era também a segunda e a última manhã de quinta-feira dedicada a casamentos, como acontece todos os meses. Como era de hábito, os noivos e as noivas, cuja cerimônia fora agendada para a mesma data, estavam presentes, vestidos a caráter. Alguns até mais do que necessário. As mulheres vestiam-se de noivas. Algumas tinham até damas de honra. Todo a teatralização da cerimônia cristã. Tratavam-se de pessoas de baixo poder aquisitivo, que não podiam arcar com os altos custos de uma cerimônia religiosa. E, claro, existiam aqueles que preferiam apenas o registro civil. Encaixamo-nos neste último perfil. Desconsidero aqui a crítica quanto ao fato da maioria das religiões e templos não concordarem com o casamento entre pessoas do mesmo sexo, já que somos ateus. Não faríamos uma cerimônia religiosa, de qualquer forma. Apesar disso, o processo contempla aspectos do ritual cristão, para consolo dos que não puderam estar num altar. Inicialmente, ficam os casais e suas testemunhas (padrinhos?) sentadas num espaço exclusivo, aguardando ser chamados pelo microfone. O casal pode requerer uma sala privada com a presença apenas de seus convidados, pagando uma grande quantia a mais. Optamos pelo Salão Nobre do fórum, como os mais de vinte outros casais, um casamento coletivo. A tabeliã do cartório no qual demos entrada no pedido de união confirma nossos nomes, nos pergunta se temos alianças para trocar. Todos fazem o mesmo, sem distinção. Alianças entregues, assinamos o registro civil. Em seguida, as testemunhas o fazem. A Juíza chega e o juramento é feito olhos nos olhos. Após o "sim" e as alianças devidamente colocas no dedo anular da mão esquerda, é dado espaço para o beijo. Como de praxe, ela homologa a união e entrega de imediato o registro, o qual mostramos orgulhosos para amigos e familiares presentes no Salão. Na área externa, em meio às parabenizações costumeiras, relatos da surpresa causada aos convidados dos demais noivos. Os comentários variaram de notória desinformação -- "Não sabia que gays já podiam se casar" -- ao trivial preconceito -- "Devia ser numa sala separada" --, quando não as duas coisas juntas. Ouvindo tal comentário de desinformação da senhora sentada na fila posterior, minha mãe olhou para trás e disse, categoricamente: "Pode, claro que pode. Tanto pode que ele está lá. É meu filho". Uma sessão de fotos tendo o fórum como pano de fundo seguiu-se ao casamento. Horas depois, todos nos encontramos numa recepção intimista. Optamos por comemorar a união com um almoço no pequeno restaurante que mais frequentamos na cidade, com um cardápio preparado para a ocasião. Convidamos somente pessoas íntimas para partilhar o momento. Ainda assim, não conseguimos convidar todos, infelizmente. Mas não queríamos festa grande. Recepção para duzentos ou mais convidados é para quem gosta de mau olhado e de estar com gente hipócrita. A "sociedade" podia (e foi) notificada do casamento através das redes sociais. É por lá que mantemos "contato" com a maioria das pessoas mesmo... A lua-de-mel foi na cidade que fizemos a primeira viagem juntos e da qual gostamos bastante: São Paulo. A vida de casado ainda não começou de fato. Aguardamos ansiosos a entrega do apartamento comprado em 2009. Feito isso, e após uma digníssima reforma, inauguraremos uma nova rotina em nossas vidas, não muito diferente da que já possuímos, mas com maior intensidade.
Desejo que você seja muito Feliz nessa sua nova caminhada.
ResponderExcluirTe amo meu primo ...