sexta-feira, 10 de maio de 2013

Memórias e trajetórias de leitura

Minha memória nunca foi boa. Em relação à leitura então, nem se fala. Estou entre os brasileiros que leem 2,1 livros integralmente por ano, segundo dados da pesquisa “Retratos da Leitura no Brasil”, encomendada pelo Instituto Pró-Livro (IPL) ao Ibope Inteligência, de novembro de 2011. Lembro que tínhamos, eu e minha irmã, a coleção completa de Monteiro Lobato. Não sei qual a sua procedência, quem nos presenteou. Recordo apenas de algumas figuras vistas nos livros, especialmente da do minotauro. Se não fosse "O Sítio do Pica-pau Amarelo", da TVE, conheceria aqueles marcantes personagens somente através de conversas com amigos.

De fato, nunca tivemos grande incentivo para a leitura lá em casa. Incentivar leitura vai muito além de dar livros a uma criança. Meus pais também não tinham esse hábito: recordo vagamente de vê-los ler um livro ou uma revista. Herança maldita. Talvez por isso, hoje eu tenha dificuldade de concentração e leia com lentidão.

Retirada de blog Wdicas

Quando criança, costumava comprar fiado revistas de jogos de palavras (cruzadas, por exemplo) numa banca próxima que minha mãe tinha conta, sempre acompanhadas de um chocolate Lollo. Adorava comê-lo enquanto preenchia os jogos. Este hábito teve fim quando minha mãe recebeu a conta mensal da banca de revistas e não gostou nadinha. Lembro também de comprar revistas de anedotas, algumas bem picantes, e em quadrinhos, especialmente Turma da Mônica. Nunca gostei de Tio Patinhas, Zeca Carioca e companhia. Para minha prima, 5 anos mais nova, costumava ler histórias infantis. Gostava de ler os diálogos, incutindo teor dramático à narrativa e dando tom e formas diferentes aos diálogos. Recriava as histórias e os personagens. Um toque pessoal. 

Mais tarde, no colégio, através das aulas de Literatura, apaixonei-me por versos de Fernando Pessoa e outros poetas existencialistas. Aventurei-me no ramo e escrevi alguns poemas aos 17 e 18 anos de idade. Um deles, inclusive, publiquei aqui no blog. Apesar desse gosto pela poesia, nunca fui afeito a livros, principalmente os romances que a professora pedia para ler. Sempre os achava chatos. Na verdade, eu tinha dificuldade para entendê-los. Faltava melhor contextualização da época. Faltava, sobretudo, o ensino da leitura. Uma análise crítica dos romances viria a calhar, não apenas a identificação de características do movimento literária ao qual pertencia.

O fato é que interrompi minha carreira de poeta devido ao vestibular e à faculdade de Computação, que dizem até hoje ser da área de exatas. Atualmente, com o intuito de compensar o tempo perdido, tenho lido mais e, com isso, aumentado ainda mais minha curiosidade. A faculdade de Artes, na UFBA, tem me ajudado bastante neste processo. E, por isso, fico me perguntando por quê cargas d'água exatas, e não humanas, foi a minha área escolhida aos 18 anos. Ah, maldita pressão social que obriga os jovens a decidir tão prematuramente o que fará nos muitos e longos anos seguintes...

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